Um pedaço de história



Quando eu cursava o Ensino Fundamental, tinha uma inimiga mortal: a História.
Isso aconteceu desde que fui apresentada à disciplina - foi ódio à primeira vista. Talvez
por não entender direito o que, em vez de ser ensinado, era copiado do livro para o
caderno sem recurso pedagógico algum. Era aquela aula que deixava as mãos cansadas
e não contribuía para nada. E essa briga durou até o Ensino Médio.

No final do segundo ano, conheci um professor que sabia cumprir seu ofício
brilhantemente. Seu método era simples: contar a história verbalmente, dando como
apoio tópicos assinalados no quadro, para as anotações dos alunos, além dos recursos
visuais, que fixavam a matéria após a explicação. Essa era a melhor maneira de
aprender: entender o que está sendo dito, para, assim, formular o que vai para o papel.

Foi aí que me apaixonei pela História - conhecendo-a, entendendo-a. E comecei
a reconhecer a sua importância. Descobri que, para entender o mundo em que vivemos,
é fundamental conhecer os processos que construíram o que ele é hoje. E, talvez, prever
o amanhã. Afinal, a história acontece todos os dias.

Mas o ápice de minha relação com essa ciência aconteceu no terceiro ano.
Motivadas por esse professor, eu e mais duas colegas nos inscrevemos na Olimpíada
Nacional em História do Brasil, promovida pela Unicamp. A competição consistia
em cinco fases online, que traziam questões e tarefas. A sexta etapa era presencial e
ocorreria em Campinas, SP. Para lá iriam os trezentos melhores do Brasil.

Foram meses de trabalho - no tempo livre, entre rotina escolar e cursos, em ano
de vestibular. Mas o resultado compensou todo o esforço: ficamos entre os finalistas.
Foi um momento marcante para as três, pelo fato de ser a primeira viagem de avião;
por conhecer Campinas e por fazer amizades com pessoas do país inteiro: paraenses,
baianos, cariocas; uma aula prática de diversidade cultural, a riqueza do nosso país.

Provavelmente, o professor Jorge não sabe da importância que teve para mim,
mas essa ciência, que se tornou minha paixão, motivou ainda mais minha escolha pelo
Jornalismo, profissão que é uma forma de levar a matéria para fora da sala de aula.
Entendi que a importância social do jornalista é esta: documentar a história e levá-la,
dia após dia, a quem a constrói - todos nós. Neste trabalho, compartilho com vocês

um pedaço de minha história, representado pelo tecido de uma sacola recebida na
olimpíada.

Luana Machado Rosales

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Os barulhos das máquinas de costura e meus choros



Minha mãe é costureira. Desde que me conheço por gente ouço aquele barulho de
máquina de costura, o que me faz lembrar de vários episódios da minha infância.

Quando eu tinha uns dois anos, minha mãe tinha uma confecção de roupas junto
com suas irmãs e minha avó. Deve ter sido nessa época que eu a deixei meio louca, deveria
ser quase impossível se concentrar em criar roupas e cuidar de um bebê. Não bastasse tudo
isso, minha mãe também resolveu que tinha que parar de me amamentar. Tudo na mesma
época, pra enlouquecer, não?

Claro que não me lembro dessas coisas, afinal eu tinha dois anos de idade; mas a
situação foi tão engraçada que minhas tias me contam a mesma história desde sempre.
Toda vez que eu queria leite, dizia para minha mãe que queria um “duzinho” sim, era desse
jeito que eu pedia para mamar – Mas eu não podia mais mamar. Então, segundo minhas
tias e minha mãe, eu gritava a tarde toda pedindo um duzinho, só mais um duzinho,
enlouquecendo-as. E assim foi durante semanas a mãe estava determinada a “tirar o peito
de mim”, como se diz; só não esperava que fosse tão difícil.

Uma tarde, no meio dos barulhos das máquinas e dos meus gritos, me balancei
tanto, pedindo um último duzinho, que caí do carrinho de bebê. Foi um susto grande, mas
nada de mais aconteceu. A irmã mais velha da minha mãe, a tia Eliene, certo dia decidiu
que iria ajudá-la com essa história de não amamentar mais. Disso eu me lembro, deve ter
sido tipo um trauma, mas funcionou.

A tarde ia como de costume elas costurando, eu chorando, a mãe me acalmando, e
por aí. Até que, depois de tanta insistência, minha tia resolveu terminar com meu
sofrimento. Foi assim:

Eu disse: - O mãe, só mais um duzinho, por favor, é o último, juro!
Mina tia disse: - Vem comigo, Rafa, eu te dou um duzinho!

Lembro que eu fui atrás dela com toda a felicidade que o mundo, naquele momento,
representava pra mim, Ela tirou o peito e me deu. Eu mamei com toda a força e vontade de
um recém-nascido, mas nada saia de lá. Nada! Ele mentiu não tinha leite, me fez sofrer. Sei
que parece exagero, mas, naquele momento, eu sofri. Aquilo era tudo o que eu mais havia
desejado nas últimas semanas – como minha tia pôde fazer aquilo comigo?

Eu não quis mais saber de mamar foi minha vingança contra minha mãe. Decidi
esquecer e esqueci tudo aquilo. Hoje, minha mãe, minhas tias e minha avó ainda costuram,
são ótimas costureiras. A confecção e meus choros acabaram, mas os barulhos das
máquinas continuam presentes em nossas vidas até os dias de hoje.

Rafaela Corrêa Amaral

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